Para o brasileiro médio, resignado a ver sobrar mês no seu salário, “investidor” é apenas um sinônimo mais pomposo para “rico”. Mas um dos objetivos da Semana Mundial do Investidor, que começa nesta segunda-feira, é provar que essa percepção é pura bobagem. É possível sim começar a investir tendo pouco dinheiro.
De fato, se conquistar Wall Street ainda é o destino de um grupo restritíssimo de eleitos, qualquer um pode realizar boas aplicações a partir de uma “merreca” (R$ 30, para ser mais preciso), aumentar o patrimônio e, de quebra, adquirir educação financeira no percurso.
Mas a transmutação de negativados em aplicadores exige uma reorganização do orçamento que, embora simples, requer dedicação e comprometimento.
Logo de cara, o aspirante a poupador depara com uma realidade triste, óbvia e incontornável: não importa o tamanho do seu ímpeto, a verdade é que não dá para investir sem que haja uma sobra no fim do mês.
Logo, antes de sair decorando desesperadamente o abecedário dos afluentes (LCI, PGBL, CDB, CRI, LIG, NTN-B etc.), o primeiro passo, segundo especialistas, é se livrar de eventuais dívidas e reequilibrar o orçamento familiar de modo a proporcionar algum capital inicial após o pagamento das despesas.
O projeto Como Investir, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), relaciona algumas dicas essenciais nessa etapa. A primeira delas é identificar onde vai parar seu salário todo o mês.
O ideal é elaborar uma lista com todas as receitas e despesas da família, da mensalidade da faculdade ao chope do fim de semana. A partir daí, o poupador em potencial terá uma noção mais clara sobre onde pode cortar para começar a economizar. No seu site, o Como Investir disponibiliza uma tabela dinâmica que ajuda nessa tarefa.
O GLOBO também disponibiliza para download uma planilha de organização do orçamento elaborada pela especialista em finanças pessoais Graziela Fortunato, da Escola de Negócios da PUC-Rio.
Há ainda aplicativos de smartphone, como o GuiaBolso, que oferecem a classificação automática dos gastos debitados da conta corrente.
Depois desse diagnóstico, é possível saber se você é devedor ou não. Caso não seja, o corte de gastos vai servir para aumentar o tamanho da sobre e seu potencial de investimento. Já quem deve na praça deve concentrar esforços em se livrar desses débitos.
Quem tem empréstimos pessoais ou dívidas no cartão, o momento é favorável porque, diante do quadro de queda de crise e de queda de juros na economia, os bancos estão abertos a negociação. Também é possível transferir a dívida de uma instituição para outra que cobre juros mais baixos, uma tendência que vem crescendo.
PRIMEIRA MISSÃO: POUPANDO PARA EMERGÊNCIA
Depois de equilibrar o orçamento, enfim é chegada a hora de investir. Virgínia Prestes, mestre em finanças e professora da Faap, afirma que o primeiro objetivo de investimento deve sempre ser acumular uma reserva de segurança para imprevistos.
— O ideal é começar fazendo o que chamamos de reserva de liquidez. Isto é, um dinheiro que pode ser acessado a qualquer momento, em caso de emergência. Recomenda-se que essa poupança seja equivalente a algo como de quatro a seis meses de suas despesas mensais — aconselhou a especialista.
A pergunta que se faz nesse momento é a que mais assusta as pessoas: aplicar em quê? Segundo Virgínia, para quem tem pouco dinheiro para começar, as duas opções disponíveis são os títulos públicos do Tesouro Direto e a caderneta de poupança. Como a caderneta é um tipo de aplicação que todo mundo conhece, os analistas de investimento recomendam aos iniciantes se aprofundarem no Tesouro Direto, que é fácil de entender e oferece oportunidades maiores de retornos para quem quer investir com pouco dinheiro.
O Tesouro Direto é um programa de venda de títulos públicos federais para pessoas comuns na internet. Os títulos são papéis emitidos pelo governo do Brasil para levantar dinheiro e financiar seus projetos. Logo, na prática, quem investe nesses títulos está emprestando ao governo e recebendo juros de volta.
Antes da criação do Tesouro Direto, em 2002, isso era impossível: pessoas físicas só conseguiam aplicar em títulos públicos indiretamente, por meio de fundos de renda fixa que costumam exigir investimento inicial maior e cobram taxas mais salgadas.
No Tesouro Direto, o investimento mínimo é de apenas R$ 30 e muitas corretoras não cobram qualquer taxa para fazer as aplicações.
A primeira coisa a fazer é abrir uma conta em um corretora (o que hoje pode ser feito totalmente on-line em questão de minutos). Por meio dos bancos e de suas corretoras associadas, também é possível investir, mas, em geral, eles cobram taxas maiores nesse tipo de aplicação.
— É importantíssimo escolher uma corretora que não cobre taxa, pois isso elevará a rentabilidade do investimento — acrescentou Virgínia.
No site do Tesouro Direto há uma relação com todas as corretoras habilitadas a negociar os papéis e quais taxas elas cobram.
No caso de uma corretora independente, após a abertura da conta, o investidor deverá fazer uma transferência bancária para a conta da instituição financeira. Esse dinheiro irá direto para a carteira do cliente na corretora. A partir daí, a maioria das corretoras permite que se compre os títulos públicos a partir do seu site, o chamado “home broker”.
QUAL TÍTULO ESCOLHER?
Nesse momento, o aplicador vai deparar com outra dúvida fundamental: qual dos títulos públicos disponíveis comprar? Eles são, basicamente, de três tipos, e cada um atende a um objetivo específico do investidor.
Existem os títulos que simplesmente acompanham os juros básicos do país (chamados Tesouro Selic); os que pagam uma percentual fixo de juros estabelecido no momento da compra (Tesouro Prefixado); e os que pagam juros fixos acrescidos da taxa de inflação (Tesouro IPCA+). A escolha do melhor título depende tanto do objetivo do investidor como do que está acontecendo na economia – por exemplo: o Tesouro Prefixado costuma ser mais indicado para momentos de queda de juros, como agora.
Mas a professora da Faap ressalta que, para quem está começando a fazer sua reserva de segurança, o Tesouro Selic é o título certo independentemente do cenário econômico. Isso porque o Tesouro Selic é o único título que permite o resgate a qualquer momento sem nenhum risco de prejuízo. Os outros papéis sofrem variação de preço todo dia, e quem precisa resgatá-los antes do vencimento não têm a garantia nenhuma de lucratividade.
— Esse tipo de aplicação pode ser um bom primeiro passo para quem nunca investiu. Pode abrir as portas para outros investimentos de maior risco e retorno no futuro — disse Virgínia.
O site do Tesouro Direto tem um pequeno quiz que orienta o poupador para o título mais indicado para ele, além de mais detalhes sobre os papéis. Entre em contato comigo para saber mais sobre investimentos
Fonte: OGlobo